Caos: confusão dos elementos, desordem, perturbação.
Ordem: disposição organizada das coisas, regularidade, disciplina.
Mutuamente exclusivos e eternos inimigos, estão sempre presentes com maior ou menor força nas nossas vidas.
Tendencialmente, sentimo-nos sempre melhor no meio da ordem.
Mesmo os que dizem que convivem bem na ordem do seu caos são capazes de entender que até certo ponto há um nível de egoísmo latente por detrás deste conceito paradoxal, já que normalmente só nós, e mais ninguém, é que nos entendemos no meio do caos em que confortavelmente nos instalamos.
A ordem tem fama de pesada. Dá trabalho, é exigente e pede constância diária.
Porque a ordem não é só saber onde deixamos a chave de casa, ou a carteira, ou que programas temos na agenda para aquele dia.
A ordem, para ter reflexo exterior na nossa vida começa muito antes, numa rotina que se estende ao coração, à alma e à mente, que é como quem diz, aos nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações.
Ouvi uma vez dizer que o estado em que estão as nossas gavetas é um reflexo do estado em que está o nosso coração. E tenho muito presente que às vezes os ambientes mais minimalistas, que poderiam reportar a um nível de ordem excelente, estão muitas vezes repletos de gavetas da “tralha” onde tudo se confunde e mistura e, por isso, ganha a mesma importância desimportada de “tralha”.
Seguramente que todos temos aquela gaveta da tralha em casa. Com papeis a que juramos que um dia vamos dar atenção, elásticos do cabelo, cartões de visita antigos, pacotes meios vazios de pastilhas elásticas ou lenços de papel, a lembrança do batizado da filha da amiga que não queremos deitar fora mas também não sabemos onde guardar…
E seguramente que também todos temos tralha dentro de nós…
A gaveta dos pensamentos, das preocupações e das angústias, que não são suficientemente fortes para as resolvermos já mas também não são tão leves que as possamos deitar fora… é aquele filho que baixou as notas de matemática, ou aquele que nos parece que anda triste, é a nossa avó que sentimos mais baralhada, ou aquela amiga que não sabemos se está bem… é o tempo que nos falta para namorar, o cansaço que sentimos, o tempo a passar e a sensação de que não avançamos para onde queríamos à mesma velocidade do que ele…
A gaveta dos sentimentos mal arrumados: o berro que demos de manhã para se despacharem a sair de casa e que saiu mais forte do que queríamos só porque não fomos capazes de nos controlar, a sensação de cansaço e do peso da rotina, a inveja que temos daquela amiga que tem uma vida “perfeita” no instagram, o querermos estar noutra vida que não a nossa, os “maridos das outras” (passe a redundância para todas as esferas da nossa vida)…
A gaveta das ações desordenadas, que parece tantas vezes estar demasiado cheia mas onde cabe sempre mais qualquer coisinha… seja porque comemos demais, porque berramos no meio do trânsito, porque não nos apeteceu trabalhar e passamos uma tarde a fazer scrolling no telemóvel…
Quando decidimos arrumar as nossas gavetas, as físicas e as outras, o caos vai-se dissipando aos poucos e ordem começa a entrar.
“Um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar” – esta é para mim a mais fundamental das regras para quem quer trazer ordem para os seus dias.
Um lugar para cada coisa, pressupõe que sabemos onde colocar cada uma das nossas coisas, dos nossos sentimentos e dos nossos pensamentos. Para isto, temos que saber quais são, quais as suas características e qual o seu peso em nós. Porque há pensamentos e sentimentos que são, na verdade, apenas lixo mental do qual nos devemos livrar, enquanto que outros merecem um lugar de destaque na nossa mente e coração e outros ainda devem ser trabalhados e resolvidos.
Cada coisa no seu lugar, exige mais trabalho e um trabalho constante. Exige que não sejamos acumuladores de coisas, de pensamentos, de sentimentos. Exige uma certa ginástica para os irmos resolvendo, guardando ou livrando-nos deles à medida que aparecem, da mesma forma que ao fim do dia andamos tantas vezes pela casa a recolher legos, chupetas, óculos, sapatos ou meias para devolver alguma ordem ao nosso lar.
Quando nos tornamos capazes de despejar as nossas gavetas e ordenar cada coisa no seu lugar, percebemos muitas vezes que afinal era de pouca importância tanta coisa que lá estava, da mesma forma que percebemos muitas vezes a enorme importância que tinham outras coisas que estevam perdidas no meio do caos.
Esta é a beleza da ordem: sabermos dar a importância devida aquilo que temos dentro de nós e por isso, percebermos o lugar que cada coisa deve ocupar na nossa vida, sem a enchermos de coisas desnecessárias, mas arrumando e cuidando daquilo que é fundamental.