Lembro-me de ser miúda e a minha avó, do alto da sua elegância quase perfeita e que nunca perdeu, me falar de uma amiga cuja empregada dizia, em jeito de elogio e sempre que via a patroa de roupa nova: “Tudo o que se usa, prende-se na minha
Senhora!”
Passando a boa vontade e dedicação daquela doce senhora de quem reza a história, da minha avó aprendi exatamente o contrário: que não devemos prender a nós, tudo aquilo que se usa.
E aí reside, acredito eu, o segredo da elegância: essa palavra que perdeu algum brilho à custa de outras que se foram impondo na gíria de todos os dias e em especial das redes sociais.
O “usa-se” sobrepôs-se com imponência ao “fica bem” e basta andar na rua para perceber que tantas e tantas vezes fica tão mal aquilo que, infelizmente, tanto se usa.
Matematicamente falando moda não é mais do que “o valor mais frequente de um conjunto de dados.” Trocando isto por trapos, a moda é aquilo que dentro de um grupo de pessoas, mais pessoas vestem, é a tendência, o que vemos nas montras das lojas, nas fotografias tão bem curadas do instagram, nos sites e nas revistas.
Da minha avó aprendi como o estilo pessoal fala tão mais alto e tão melhor do que aquilo que simplesmente se usa em cada momento.
A minha avó tinha uma forma única e maravilhosa de pegar numa blusa ou num conjunto de calças e camisola e alterá-los ou combiná-los de tal forma, que no fim, não pareciam mais as mesmas peças de roupa mas sim uma extensão de quem ela era.
Aprendi assim que devemos saber usar o que se usa a nosso favor, como uma forma de expressar a nossa individualidade, o nosso gosto pessoal, a nossa forma de ser e de estar. Que devemos saber usar o que se usa como uma forma de autocuidado, porque nos sentimos bem, porque nos sentimos nós, porque nos sentimos às vezes até melhor do que o nós de todos os dias. E isso é bom e muitas vezes necessário.
Será que pessoas com diferentes tipos físicos, aguentam todas o mesmo tipo de roupa? Será que uma mulher de cinquenta anos e uma de dezoito passam a mesma mensagem se usarem o mesmo vestido curto combinado com botas altas? Será que
todos os homens têm uma personalidade que vai bem com fatos clássicos e meias com abacates? Será que a vida que cada um de nós vive, as condicionantes do dia a dia tão simples como se vão para o trabalho a pé, de carro ou de metro, se trabalham ou estudam, se atendem ao público ou não e até as aspirações que cada um tem devem estar traduzidas naquilo que escolhe vestir?
Acredito que sim. Que a nossa forma de nos posicionarmos fisicamente no mundo (aka, a nossa imagem) deve ser um reflexo de quem somos no nosso interior; deve ser um reflexo dos valores e crenças pelas quais pautamos a nossa vida, do estilo de vida que decidimos ter, da idade que temos e até da forma como nos relacionamos connosco próprios e com os outros.
Acredito que o estilo individual de cada um se sobrepõe em larga medida ao que está, simplesmente e em cada momento na moda e que a nossa forma de vestir nos deve agradar primariamente a nós, mas deve partir de um ponto em que existe respeito também pelos que nos rodeiam.
Uma boa imagem tem que ter na sua base o autocuidado, seja na forma de exercício físico, de uma boa alimentação, de cuidados estéticos e de saúde, mas também do cuidado do nosso interior, do nosso coração, da nossa alma, dos nossos pensamentos e dos sentimentos que nos permitimos, ou não, ter.
E por isso, ter uma boa imagem é fonte de felicidade em primeiro lugar para nós, obviamente, mas que extravasa para aqueles que nos rodeiam.
A imagem, como muitas outras coisas na vida, é algo que se trabalha, por dentro e por fora: há quem tenha a sorte de ter esse dom de cuidar a imagem inato – como a minha avó – há quem tenha que por no seu desenvolvimento algum esforço.
E nunca por vaidade, mas pela firme convicção de que o reflexo que vemos no espelho é a nossa história orgulhosamente contada ao mundo por aquilo que ele vê.